O bullying é o grande vilão?

10/06/2015 14:57

Muito se fala sobre o bullying em postagens, comentários, vídeos; não apenas no facebook, mas em cursos e na mídia em geral. Frases feitas como “abaixo ao bullying”, “diga não ao bullying” são ênfase de tais postagens, assim como não faltam argumentos punitivos e definições de uma personalidade negativa aos que praticam tal comportamento.

Segundo o site no Brasil, o bullying é traduzido como o ato de bulir, tocar, bater, socar, zombar, tripudiar, ridicularizar, colocar apelidos humilhantes e etc. Essas são as práticas mais comuns do ato de praticar bullying. A violência é praticada por um ou mais indivíduos, com o objetivo de intimidar, humilhar ou agredir fisicamente a vítima, podendo ser praticado em qualquer ambiente, como na rua, na escola, na igreja, em clubes, no trabalho e etc.

Algumas histórias me chamam atenção, como a da menina que era chamada de “aberração de circo” e, traumatizada, lutou anos com um tratamento ortodôntico e hoje expõe sua história de superação onde ressalta sua alegria e segurança. Igual a dela, muitas outras são contadas e aclamadas, sempre em tons acalorados, com mensagens rancorosas àqueles malfeitores de ocasião, que seja onde for, humilhou e zombou da vítima em potencial. O que me assombra nessa história é a ideia de que se não fosse o trauma vivido pela jovem, talvez nada teria sido feito em prol de sua melhora.

Esclareço que não estou, com esta reflexão a fazer qualquer tipo de apologia ao bullying, mas não posso deixar de questionar se este atual “politicamente correto” poderia colaborar na construção de sujeitos fracos, carentes e/ou indecisos? Certa vez, o pai de Freud disse a ele: "esse menino não vai dar para nada" - vol. IV, p.245 e isso foi determinante na construção de suas ambições.

Percebo situações segregatórias muito mais danosas, como o preconceito velado em sorrisos e desculpas. Este “politicamente correto” é lindo se fosse uma verdade humana, mas não é assim e sabemos (mas fingimos não saber porque está na moda). Não devemos desistir de sermos pessoas melhores, mais educadas e respeitar as diferenças, mas, isto não significa aceitar e compactuar com a estagnação do outro. Conheço muita gente que vive da exploração de traumas, sintomas e sofrimentos individuais diversos. Ter o entendimento de que a angústia é de todos e não só daqueles que são vítimas, é uma boa maneira de não estreitar tanto a mente num estereótipo típico. 

Daniella Salgado, psicanalista em formação, enfermeira e professora.


"E umas das coisas que aprendi é que se deve viver 'apesar de'. 'Apesar de', se deve comer. 'Apesar de', se deve amar. 'Apesar de', se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio 'apesar de' que nos empurra para frente. Foi o 'apesar de' que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida."

Clarice Lispector

 

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